Eu me lembro nitidamente da primeira vez que ouvi o estalo da sálvia fritando na manteiga: foi na cozinha da minha avó, numa tarde fria em que a casa inteira cheirava a aconchego. Naquele dia ela me ensinou que o segredo para transformar qualquer prato simples em algo memorável está nos detalhes. Anos depois, na minha cozinha, eu reinventei essa memória trocando as tradicionais batatas por abóbora cabotiá, que traz cor, doçura e um perfume que abraça a alma.
Esse nhoque nasceu de uma safra generosa de abóboras no quintal. Eu queria algo leve, mas que tivesse a textura macia das nuvens que costumo buscar nas receitas de família. Foi aí que descobri que assar a abóbora – em vez de cozê-la em água – concentra o sabor e elimina o excesso de umidade. O resultado? Um nhoque que derrete na boca e ganha companhia de um molho amanteigado com nozes tostadas, que trazem crocância e um toque elegante de rusticidade.
Ingredientes
- Para o nhoque:
- 800 g de abóbora cabotiá (já sem casca e sementes)
- 1 gema
- 1 colher (sopa) de manteiga
- ¾ xícara (chá) de farinha de trigo (aproximadamente)
- ¼ xícara (chá) de queijo parmesão ralado
- Sal, pimenta-do-reino e noz-moscada a gosto
- Para o molho:
- 3 colheres (sopa) de manteiga
- 10 folhas de sálvia fresca
- ½ xícara (chá) de nozes picadas grosseiramente
- Raspas de ½ limão siciliano
- Sal e pimenta-do-reino a gosto
Modo de Preparo
- Assar a abóbora: pré-aqueça o forno a 200 °C. Distribua os cubos de cabotiá numa assadeira, regue com um fio de azeite, salpique sal e asse por cerca de 40 minutos, virando na metade do tempo, até ficar macia e levemente caramelizada.
- Secar e amassar: ainda quente, passe a abóbora pelo espremedor ou amasse bem com um garfo. Espalhe sobre uma travessa e deixe esfriar e liberar vapor por 10 minutos – isso evita um nhoque pesado.
- Preparar a massa: transfira o purê para uma tigela, junte a gema, a manteiga, o parmesão, sal, pimenta e uma pitada de noz-moscada. Adicione a farinha aos poucos, mexendo com delicadeza, até obter uma massa macia que grude levemente nas mãos mas possa ser modelada.
- Modelar: enfarinhe a bancada. Separe porções da massa, role em cilindros de cerca de 1,5 cm de espessura e corte em pequenos travesseiros de 2 cm. Se quiser, pressione levemente cada pedaço com um garfo para criar sulcos.
- Cozinhar: ferva água abundante com sal. Cozinhe os nhoques em etapas; quando subirem à superfície, conte 30 segundos e retire com escumadeira, transferindo para uma travessa untada com manteiga.
- Molho de nozes e sálvia: em frigideira larga, derreta a manteiga até espumar. Junte as nozes e toste por 2 minutos. Acrescente a sálvia e deixe fritar até ficar crocante. Tempere com sal, pimenta e as raspas de limão.
- Finalizar: adicione os nhoques cozidos à frigideira, salteie delicadamente por 1 minuto para envolver bem no molho. Sirva imediatamente, com mais parmesão se desejar.
Dicas do Chef
- Um truque que aprendi e que muda tudo é pesar a farinha: 100 g de farinha para cada 500 g de purê assado costuma ser meu ponto de partida. Menos farinha deixa o nhoque leve; mais farinha, firme – ajuste ao seu gosto.
- Quer variar? Troque as nozes por castanha-do-pará ou pistache. A sálvia também combina lindamente com alecrim fresco, mas use metade da quantidade, pois ele é mais intenso.
- Para adiantar a vida, congele os nhoques crus em assadeira enfarinhada. Depois de firmes, passe para saquinhos. Na hora de servir, vá direto do freezer para a água fervente – não precisa descongelar.
Espero que essas nuvens douradas tragam o mesmo calor que sinto toda vez que o perfume de sálvia invade a minha cozinha. Experimente, adapte aos seus gostos e, acima de tudo, divirta-se – porque cozinhar é, antes de tudo, um ato de carinho.

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